Madre Ana Couto

Madre Ana Couto ( 1885 - 1947) foi uma religiosa católica jardinense , que desde criança, manifestou, através dos seus atos e palavras, um coração voltado para os pobres, os doentes, os idosos, os que sofrem. O seu lema era: “ Caridade e Fortaleza”” o qual viveu em todo o curso de sua vida. No dia 30 de janeiro de 1885, no Sítio Engenho D’agua em jardim - Ce, nasceu Ana Álvares Couto. Filha do casal: Cláudio Álvares Couto e Eponina Gouveia Couto, foi batizada pelo Padre Joaquim de Sá Barreto na Igreja Matriz de Jardim e aos 9 anos de idade recebeu das mãos do Padre Miguel Coêlho de Sá Barreto a primeira Eucaristia.

Aos sete anos de idade, construiu nas proximidades de sua residência uma ermida(pequena capela), onde se recolhia oração. De acordo com suas anotações íntimas ,consagrou-se a Nossa Senhora aos 10 anos,fazendo voto de castidade. Ana freqüentava sempre que possível, os atos litúrgicos, na Igreja matriz e dedicava-se ao ensino de catecismo às crianças dos sítios, preparando-as para o primeiro encontro com Jesus.

Aos 15 anos, Ana atravessou uma fase de dúvidas. Ela deixou escrito o seguinte: “desviei-me do meu caminho de piedade; atendi aos meus sentimentos de vaidade, aos prazeres a que minha natureza era inclinada. Foi uma verdadeira tempestade que me causou grandes prejuízos: orava e freqüentava os Sacramentos de forma fria e indiferente! O pai celeste, no entanto velava por mim, na pessoa enérgica e severa do meu pai. Em 1902, contava eu com 17 anos de idade, faleceu um tio meu, cuja morte me falou profundamente da brevidade da vida e do nada dos bens terrestres”.

A partir daí Ana, sai dessa fase turbulenta e entrega-se totalmente ao desejo de viver para Jesus. E foi numa noite da quinta-feira santa na Igreja Matriz de Jardim, em adoração ao SS. Sacramento, que Ana sentiu a graça da vocação para a vida religiosa. Apesar de reunir em si todos os dons para tornar-se religiosa, Ana teve que lutar muito para conseguir o seu ideal. Vários foram os obstáculos: oposição dos pais, localização geográfica de Jardim, idade avançada para os padrões da época e outros entraves que sempre aparecem para os que trilham o caminho do bem.

Foi somente em 1909, com 24 anos de idade, que Ana tomou como confessor o Padre Quintino, então vigário de Crato,a quem confiou o seu desejo de ingressar num instituto religiosa,escolhendo a Companhia das Filhas da Caridade. Devido à oposição dos pais, nem o Padre Quintino, nem o vigário de Jardim – Padre Queiroz, puderam contribuir para a realização do ideal de Ana.

Em 1915, após o falecimento de seu pai, Ana resolveu escrever para a Superiora das Filhas da Caridade, tendo seu pedido negado para ingressar nessa instituição, devido a sua idade já avançada. Ana não perdeu a esperança; escreveu para diversas Congregações quando em 1921, foi chamada para o Convento da Glória em Recife-Pe. No entanto seguindo os conselhos do Padre Souza (cunhado do seu irmão Cláudio),acabou indo para a Congregação das irmãs Dorotéas, em Fortaleza-CE.

Ana não conhecia os fins dessa Congregação, depois de alguns dias,viu que ali não podia ficar porque,para mestra não tinha o devido preparo; para irmã, a idade já estava avançada(36 anos) e a falta de costume para certos trabalhos, podia prejudicar-lhe a saúde. Resolver então, seguir para Recife, confiando no convite anterior do Convento da Glória, que a recebeu como Irmão corista.

No fim de 04 meses, estava com a saúde abalada, talvez devido a clausura ou mudança de alimentação, sendo preciso sair,para cuidar de sua saúde.

Sozinha, longe da família, num lugar quase desconhecido, desceu o alto de Olinda, tomando o bonde para Recife.Ali na Igreja de Nossa Senhora da Penha,orou e sentiu-se mais forte, espiritualmente. Dirigiu-se, então à casa de uma patrícia amiga, que a recebeu com carinho de mãe. Durante a sua estada em Recife, a mãe de Ana sempre escrevia, dizendo que estava com as portas abertas para recebê-la, caso não pudesse lá ficar. Enquanto esperava alguma família que viajasse para o Ceará,aproveitou para fazer algo em favor dos necessitados e, com a devida permissão passou uma noite com os pacientes da mendicidade.

Diante dos últimos acontecimentos, vêm-lhe dúvidas de consciência: ”Não deveria eu ter ficado com as irmãs Dorotéas , visto ter me dado bem de saúde ali? Teria sido falta de humildade, de coragem ou medo dos trabalhos?”. Com esse problemas de consciência procurou falar com um confessor Carmelita a quem consultou se devia falar às irmãs Dorotéas sobre seu caso. Ele aprovou e teve para com ela palavras de conforto celestial e assim, fortificada,preparou-se para um novo sacrifício que muito lhe custou: voltar!

Finalmente, em companhia de algumas famílias, viajando no vapor Santos, voltou para o Ceará. Retornando para a Instituição das Irmãs Dorotéas em Fortaleza. Em seus escritos, Ana relatou o seguinte: “O meu amor próprio, levantou-se furioso e caro me custou vencer este meu EU tão melindroso!... As irmãs me receberam bem. Graças a Deus experimento grandes consolações no desempenho de todos os trabalhos que me são impostos. Certo dia beijei o cabo do caixão em que conduzia o lixo. E, ao ver minhas mãos calosas, conseqüência do trabalho,minha alma exultou de alegria,obedecendo em tudo de boa vontade.”

Após 3 meses, a Madre Superiora participou a Ana que ela não podia ficar e que,no dia seguinte devia sair. Chorando amargamente, recebeu a ordem de deixar aquela comunidade, aos 29/08/1922. Foi até a capela pela última vez e, num desabafo feito de lágrima, diante do Tabernáculo fez a oração que sua angústia ditou.

Após 11 meses de ausência chega em Jardim,onde foi recebida com grande alegria pelos seus familiares. Somente Ana não estava satisfeita, pois aspirava coisa muito melhor para sua vida, no caso o imenso desejo de ingressar num instituto religioso.

Em Janeiro de 1923, recebeu Ana Couto do SENHOR Dom Quintino Rodrigues de Oliveira, uma carta,convidando-a para com outras jovens já do seu conhecimento,tratar da fundação de um colégio ao lado de uma congregação religiosa e que assumiria ela a direção do mesmo. Dom Quintino reuniu as quatro moças com que contava para referida fundação e disse: “Em Deus e para Deus vamos trabalhar. As obras de Deus têm por selo a contradição dos homens.”

Fundados a Congregação e o Colégio em 04/03/1923, Dom Quintino nomeou Ana Couto e Eudócia Tavares para a direção da casa.

Em 15/10/1924 durante a festa litúrgica da Matriarca do Carmelo – Santa Tereza de Jesus – Padroeira da neo-Congregação e do Colégio, as co-fundadoras Ana Couto,Eudócia Tavares, Mariana de Freiras e Antonia Vitorino consagraram-se a Deus, emitindo votos de Castidade, Pobreza e Obediência.

Aos 28/12/1929, Madre Ana Couto sofreu uma grande provocação – faleceu Dom Quintino,deixando a Congregação numa dolorosa orfandade. Com fé e coragem Madre Ana Couto enfrentou todos os obstáculos. Possuidora de uma personalidade firme, bom senso , não se dobrou as canseiras,nem ao desânimo. Sua caridade se estendia não só no seio da Congregação, mas onde quer que fosse, e no caso de haver preferências, essa seria para com os mais pobres e marginalizados.

Preocupada em fazer o bem, e dar continuidade as obras sociais do Fundador da Congregação – Dom Quintino, mesmo a despeito de muitos obstáculos, procurou criar obras sociais para atender os mais carentes.

Em 1938,Madre Ana Couto fundou na cidade de Icó, uma casa de Educação,hoje Escola Normal e Ginásio Senhor do Bonfim.

Em 1939,fundou na cidade de Iguatu, a Escola Normal Rural Santana,hoje Colégio São José.

Preocupada com a necessidade de um prédio para o funcionamento do Noviciado que, por emergência funcionava anexo ao Colégio Santa Tereza,fundou a casa de Formação das Filhas de Santa Tereza em um terreno doado pela Sra. Dona Julieta Zábulon. Anexo a casa do Noviciado, foi construído um salão para onde foi transferida a Escola Dom Quintino, para alfabetização de crianças pobres, que funcionava no alto do Bairro Vermelho , facilitando o ensino da Doutrina Cristã. Neste mesmo ano (1942) fundou o Abrigo Jesus Maria José para acolher a velhice abandonada, sonho que há muito tempo alimentava.

Em 1945, foi forçada a afastar-se de suas atividades. Como cada pessoa tem que pagar o tributo de sua condição humana: limitações que impedem o desenvolvimento de maiores feitos, em benefício dos outros, Madre Ana Couto tinha seus defeitos, salientando-se sua índole impulsiva, tornando-a à primeira vista,áspera,quando fazia correções. No entanto, sabia harmonizar a severidade com a caridade, a aspereza com a suavidade, de forma que a disciplina, a princípio tímida, acabava por reconhecer, humildemente seus erros,mostrando-se agradecida e encorajada para continuar suas tarefas do dia-a-dia.

Era notável sua reta intenção e humildade em tudo o que fazia. Nunca dizia: eu fiz ou vou fazer isto, mas a Congregação ou as Irmãs fizeram ou farão isto. Para estas escrevia: “Tudo para maior glória de Deus”.

Após uma vida de renúncias, de lutas e de vitórias,deixando um rastro luminoso de sua piedade adulta e fortaleza cristã, Madre Ana Couto,desapareceu do cenário dos vivos no dia 30 de janeiro de 1947.

É de sua autoria a seguinte oração:

“É sob o olhar do teu divino coração que quero viver e morrer, numa eterna renúncia de tudo que possa ofender-te, ó meu Jesus. Aceita, pois, os meus pequeninos sacrifícios e perdoa as minhas culpas. Jesus, Maria, José, santificai-me; santa do meu nome; anjo da minha guarda; Santa Tereza,minha mãe e protetora; santos e anjos do céu, rogai por mim a fim de que faça tudo para glória de Deus, minha salvação e do meu próximo, movida sempre de pura e santa intenção no cumprimento dos meus deveres espirituais e temporais”.


Fonte: Memorial Ana Alvares Couto – escrito pelas Irmãs da Congregação das Filhas de Santa Tereza se Jesus em Crato-CE.


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